então era isso.. sabe há quanto tempo ela tenta fugir? vou dizer. se ela quisesse dançar nua no meio da fogueira, ninguém nunca a impediria. e se ela quisesse saltar das varandas, como fazia, sobretudo na casa do vizinho, ela ia vestida de vermelho e era toda ela cigana de 8 anos, pulando os cabelos no ar. era princípio dos seus sonhos de infância também, isso de morar janelas e varandas, então que ela jogava farelos de pão para que dançassem com ela aquilo que ela nunca soube.
mas ela toda ida foi experimentando isso de entrar em tudo o que sentia. às vezes precisa nem ver e já estava toda lá. nunca lhe disseram isso de não no tempo esse que era dela. e em casa é que ela mais vivia. o lugar que não era mais esse dentro todo liberdade que seus pássaros pais lhe deram de presente de nascimento. ela era de fora, como dentro antes tudo era este salto.
ainda não entende isso de filha de pássaros, se lhe espinhavam borboletas pelo corpo. ela sempre caia em tudo o que não existia. outro dia abriu a boca e uma borboleta azul fugiu. outra vez, piscou e duas pequenas dançaram nos cílios. e era isso que ela sabia ver: os espaços entre os voos. era criança de liberdade. então que era ela o revés da liberdade: nascida com um bilhão de borboletas nos olhos, hoje vive com algumas entaladas na garganta, comendo seu ar. outra colada à iris, viajante em circulo, presa nos dentes e no ventre de onde não terá filhos.
outro dia contou que te mora uma amarela e vermelha, absurda, insiste na morada de seu ouvidos. disseram que vive se mexendo por dentro do pulso uma outra que se pode ver a forma, e um dos lados estão gastos e parecem conchas.
ela deixa tudo isso voar seu corpo, sem pestanejar, diz que faz cócegas onde ela sempre precisou de carinho. apesar de trabalhar nos voos o revés de tudo quanto já voou, também não é que não podia, é que não tinha corpo mais de absurdo
por isso me pediu que contasse em prosa, porque a poesia não sustentaria esta queda. na adolescência foi mais difícil, nunca soube o que era dela ou de alguém, sempre estourava-se em borboletas no banheiro, as calcinhas também chovendo borboletinhas. nos seios, saídas dos bicos, bicando, e ela gostando, mas sem saber.
soube depois
que
borboleta é koysa de estômago,
até que.. ao revés, começou a desconstruir suas liberdades. hoje as borboletas demais caladas por dentro.
então que é fácil ver as faixas de seus olhos,e dizem que algumas borboletas, alojadas nos pés, ainda voam ela toda, sem que ela queira. uma amarelinha borboleta, madura, seguiu o caminhos das notas de violão, dentro da boca do saxofonista. sua mãe nunca foi de lhe tirar de alturas. então que mesmo depois ela toda adulta, as borboletas espalhadas em sua liberdade, lembrou-a de procurar o vento. quando encontrou, já sabia. ela já sabia que não sabia o que o vento diz e dançou.
"é o tempo que tenta o infinito. eu fujo disso que tem lua. que tem o que é. porque eu vim das alturas. e do chão, só reconheço quedas. logo as borboletas de dentro do meu corpo me fazem amor e eu levanto. Não sou da Terra"
e esse é o tempo que ela foge: outros mundos. dizem que paralelo, existe uma nave, e ela é a rainha do fogo com asas de borboletas vermelhas e o corpo todo ainda crisálida. eu acredito. porque foi o tempo que me pediu para contar.
Nota: mas foi também aos poucos que ela ficava sem borboleta. sem si. eles olhavam e queria ela toda borboletuosa na cama, na sala, na varanda. e ela ia. ás vezes acontecia de morrer 9 de uma vez. e uma branca no meio das pernas, sempre voltava e se contraía para dentro do que era dentro. tem gente que só tem amor em alturas
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