eu não vou negar que tenho medo. eu tenho muitas coragens. muitas mesmo, mas hoje, hoje eu senti que eu vim para ser do mundo. por isso a solidão não me dói mais. também já amei corpos, gentes, e as amo. mas também por isso nunca namorei. eu só amei sério. também, como poderia deixar de amar aqueles olhos verdes gigantes me olhando sorrindo? nunca né. ou aquelas coxas dele..
mas tem algo, sabe. algo nisso que se manifesta quando estou sozinha. e tenho estado muito sozinha, desde que nasci. depois eu vi que eu é que escolhia isso de, quando o outro ali por mim, para mim, eu lá, olhando as gaivotas na janela. ou tentando ver os furos da janela. ou olhando aquilo que eram olhos e que tinha mais, derramados em mim. as geometrias sempre me encantaram e eu não queria entender. eu só queria olhar para aquilo que estava sem Ser. então era isso, eu circular, e alguns triângulos e retângulos tentando se encaixar nisso que é abraço, eu mesma tentando abraçar meu eu no outro. então que às vezes dava, eu abraço, eu jogo a perna, as coxas, até a boca às vezes, porque eu também quero. mas, ai, deus me livre domingos marcados de alguém. sábados noturnos com bocas prontas demais. foi quando eu falei baixinho: te amo abandono. também é aqui neste lugar que eu me reinvento. e caralho, é isso que eu faço melhor: rein vento..
foi aí que eu entendi. e também é por isso que fico tranquila quanto a hoje, quanto ao sol, quanto as mãos do outro. eles podem atravessar todos os espaços das minhas saias. eu gosto, eu falo que gosto. eu rio que gosto. eu também atravesso tantas saias.. são saídas. furtos do meu real. eu gosto.
mas entendi. o mundo é que eu quero devorar. isso de bocas sangrando vermelhos nas noites. isso de pássaros engaiolados. isso de voz. isso de Vez. isso de era. isso de estar. isso de sonho. foi então que eu entendi (eu acho, vou repetir isso para eu entender). eu entendi': as nuvens, isso tudo que voa sem se dar conta. essas raízes cumprindo as flores. eu estou cumprindo um sopro. e me atentei ao vento. lá no meu nascimento eu me atentei ao vento, porque era onde eu nunca me atentaria. então ele me tentou. veio forte e derramou sobre o meu coração, que era frágil, todas as ventanias. eu me apaixonei por muito tempo pelo vento. e eu tenho marcas no joelho de pra sempre desse amor.
devo contar que fiz amor com ele, e ele me pegava, dava uns giros por dentro da calcinha, subia e descia arrepiando meus pelos. se acortinava nos seios, arranhava-me as costas com isso que eu não sei dele, e eu gozava. amava o amor que nos amávamos. hoje, amando, não sei dizer. às vezes todas as coisas caem do de cima que elas estão, no meu quarto, nos lugares onde vou e nunca sei quem fez isso ou aquilo que não está feito. acendo vela, ela apaga. queria o vento ser só ele em mim. eu não cedi, porque também com ele eu aprendi a não deixar. então eu nunca deixo. antes que me coloquem o nome priscila, eu já Andrezo. depois[...]
e o vento levou também algumas penas numa dessas noites que ele me tomou e eu gemi ele. penas contadas, da geometria que eu gostava. penas penduradas. e desde o momento que arranquei das minhas asas eu disse que elas eram de destino voo. que elas são de destino sem destino. também por isso deixei-as com uma amiga que sabe ser isso, que sabe ir.
agora. foi muito rápido, acabamos de dançar, ele pegou na minha cintura. por dentro da blusa. fez dança xamânica nos meus lábios, adentrou. e eu só sentei e vim contar. logo ele volta. eu tô nisso que o vento quer e me leva e às vezes eu fecho os olhos e chamo. ele sempre vem. mas gosto mais quando ele chega.
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