todos os dias olhava pela janela. os ares escorridos. os pássaros. os movimentos.
jogava a semente dos voos:
migalhas de pão
e assim a vida. toda a sutileza ventaniosa no seu olho direito. ao esquerdo, cabiam-lhe as faltas. o todo infinito curvado na lágrima. o olho esquerdo é o problema diria o ginecologista. se ele soubesse do sexo dos olhos. essas infâmias se abrindo em pernas. pintos e bocetas do mundo gozando lágrimas. se soubesse o quanto dói fazer o amor com o olho esquerdo, talvez sim vivêssemos piscando pra ver se estimula essa parte de não ver. essa partitura de flauta tapando os buracos do mundo em piscadas.
piscar o olho esquerdo é ver ele assim, sucu.l.e.n.t.o como suculentas marginais de novembro. é como entrar nas costas disso que é nada, ver o todo. abraçar o todo qu o todo é, como o nada todo que ele é. e não caber.
de não caber é e'feito o olho esquerdo.
pássaro nenhum voa.
luz nenhuma luna.
aberta
a gota da vida
última
inteira
próxima de ser enfim
a sua
primeira
languida
como os pássaros que pensam
voo
exposta a partícula
que nos liga ao infinito: dor transmutada em sorriso
direito
com uma flor amarela no sorriso
do olho direito
deformidades do agora
que você não entra
mais
porque não entro.
ele se conta
olhar. fundo. inteiro
um quanto dois
sumindo enquanto eu o
conto...
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