quinta-feira, 5 de outubro de 2017

por acaso

agora o teu piano
afundado
em meus lábios

ouço..

som de fim de noite
ainda preso entre arraias, estrelas
tubarões
y cavalos marinhos

ruído Longe
fechado
como antes o som dos teus lábios

agora esse azul na boca
y algumas serpentes
do mar
que se entranhavam entre as teclas
do teu
piano

piano que talvez invento
porque não consigo inventar você

Deusa ou Lilith
xamã
imagem do teu fogo
de mulher

passeio meus dedos
sob as teclas
ouço ainda o teu nome..
plumagem de versos em cadencia de flor
marinha nos espaços entr'as teclas
y teu piano agora parece dentes
rangendo sobre a minha memória de gente

lembro o teu poema
em que voo,
reptilinea

sob teu poema
todo som é nu
anêmonas y fomes
adornam nossos desejos

abro a boca
como quem abre os dedos ao nada
para nadar seu próprio afogamento

abro pra ti
o meu futuro de mar

y ele tem a sua fome

ouço,
três teclas profundamente desafinadas
assombram a boca do mar

entre carpas,
elas tocam: eu' t' amo'
som de
escala de dois universos
transparentes
ainda que só se encontrem em sonhos

dois invisíveis,
a ouvir rouquidões líquidas
de teamo
enquanto esquecem a voz
humana que também a tecla um dia já
teve..




Nenhum comentário:

Postar um comentário