quinta-feira, 5 de outubro de 2017

eternidade

se eu tivesse uma imagem com a tua fome
ela teria hibiscos vivos dançando sob a xícara de chá
y as cores todas se verteriam
em vermelhos

porque se eu tivesse uma imagem
com a tua fome,
ao olhar assim p'ra ela
teria eu de ser apenas sangue
y transpassar, coagulante
a tua voz líquida
porque se alguma imagem
se verter em tua fome
ela seria a plenitude
cortante de cada verso
o espaço vazio das pétalas vadias
a cutícula arrancada
em cada unha
o batom vermelho triturado na boca infeliz
o sabão grátis do motel que depois lava a mão pesada
a roda do carro estragada de estradas esburacadas sem significados
o espaço onde os passos sem pés y sem asas
 cotidiano de pombas
ou a imagem de gira

porque se a imagem se vestisse da sua fome,
ela não existiria
de tão eterna

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