domingo, 1 de outubro de 2017

aos amantes, a janela

debruçada sobre a janela
busco qual a estrada que mais trouxe você
aquele
ou outro
para as pedras em que me escondo

sinto gosto de luz branca se aproximando
na escureza das pedreiras inexatas
que rolam aqui perto
enquanto chegava ele
ela
ainda

lembro a primeira vez do teu rosto
aquele ou outro
a mesma face de lamparina que eu toquei num sonho na noite de tango
marítimo
antes da tua vinda

sonho que não tive,
mas pressinto

lembro do quando:
na mesma noite pude ver o arco-íris de artifício
da fresta das tuas pernas

você aquele outro y sempre
me saltou obstáculos
plantados de outras vidas

resistentes a dentes
y unhas
minha janela tinha uma única flor
y algumas ausências
janela-gruta
escura como as esquinas de dentro
que dão  nas minhas pernas

até que me iluminassem presenças

você chegou, como aquela
ou ele
pingando estradas
disse que precisava chegar logo

y me fiz algum lugar
secreto ou sujo
de dois lados
dentro-fora
janela-casa

então chegavam todos
como quem estivesse pronto para adentrar
num incêndio

por isso a lamparina, a festa no meio das pernas
todos tinham festas no meio das pernas
todas
incendiosas que eram
incendiosos

então eu fiquei na janela
com esse sabor de eterno
com a lampada acesa de alguém que vem
queimando o escuro do que meus olhos não alcançam
de olhar

porque quando você veio,
aquele ou outra
tudo o mais se tornou passado
as horas, Ela, os poemas não escritos
ele

parada, à janela
sinto o vento y ele faz curva com outro vento,
talvez a mesma curva que te trouxe

fico pensando,
um verso aberto
feito janela onde se pode ver pela manhã
a xícara cheia de promessa
a taça de vinho sagrado na mesa numa noite de lua
ou cheia

corpo nu saindo do banho
boca vermelha entreaberta
ou comendo pipoca

quando você chegou
era ele
que era ela

passos alados ao nome Destino
de plano voo
ou Fé

curva

sem tempo, sem nome

inteireza de promessa

aberto como aberto era também
o meu que não é meu
nome

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