toda dor é urgente. unge o nosso passado presente y futuro. pousa sob o ventre de tudo o que nasce do verbo. pousa sob a fala, sangra. a porra da dor não fala nada, ela só fica lá contando os passos enquanto as gotas secam no nosso corpo, corpus diante da dor, as gotas são só faíscas lembrando que estamos a queimar vida.
também toda dor é passagem, é abandono, é asfalto, é caminho, estação, mendigo pedindo visitação. a diferença é que depois pode-se construir muros gigantes aos quais só a gente entra depois.
mas hoje eu resolvi falar. resolvi falar que joguei teu nome no infinito y mandei você embora. bati com força os muros daquela avenida entre meus estados. mandei você se foder. mas se foder gostoso.
não sei o que você pode entender com isso, mas espero que você entenda bem o que é isso pra você.
choveu y eu não trouxe guarda-chuva de você. choveu y eu aceito essa dança a qual você foi embora não de mim, mas de você, mais uma vez, como todas essas dores que a gente não aguenta com um outro a nos olhar, com um outro.
me livrei de ser seu Outro. cuspi na vitamina elétrica dos teus olhos verdes, y verdes são os caminhos das ervas que plantei nas tuas costas com as minhas unhas. eu li teu poema. uma última vez para lembrar que há janelas em todos os muros que a gente constrói y espero que você não pule sem antes saber das tuas asas. eu te falei na cama, no chuveiro, no sofá, na cozinha, no café, no vermelho do vinho, eu te falei puta santa bêbada, eu te falei de muitas formas que eu te amava. eu rasguei também todos os meus poemas y queimei antes de você chegar. eu mandei lavar as roupas dos meus poemas para que só entrasse essa nudez que era a sua chegada. 14 dias é o tempo da sua nudez. agora essa nudez sem você, fazendo a dor urgente sangrar vermelhos em rituais. agora um guardião segurando a porra do seu nome y me mandando agir. agora essa porra de mensagem que você não manda, essa merda de sorriso que eu grudei no meu y que carrego dos dias que a sua deusa era eu, não essa porra de consciência desajuízada, presa à carne do que você nunca me viu. agora essa borda onde nos desencontramos sem ao menos nos encontrar.. o vermelho levado por rodas surrealistas, onde eu senti a sua morte.
eu queria dizer que foi a mim que você matou quando foi embora, mas hoje eu recebi um e-mail que não era seu mas falava de você. y ninguém nunca soube que eu te amava como te amo [ainda].. mas o universo sabe porque veio até mim essa verdade. eu chorei. quero que saiba que chorei, y continuo desejando que você se foda. é urgente a dor, I. é muito urgente. fique vivo. eu sei porque precisei ir. embora não quisesse ainda. y não foi você quem me expulsou. não foi você.
eu recebi um e-mail [ainda bem que não é seu]. ninguém sabe. você está vivo. agora eu sei!
de passagem,
P. Andreza
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