sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

duas

a língua é um oceano de matérias
e loucuras
que chovem
quando duas juntas
e olhos fechados..

terça-feira, 3 de julho de 2018

plano de fuga

é sempre precoce
escolher
viver
num cárcere

sobre você

a língua acessa
a alma do acaso

você disse três ou quatro palavras
antes de dormir

a espada celestial
acompanha seu desejo

agora em mim
essas uvas,
cachos bronzeados

seus cabelos ao vento em sonho
o suor

seu sorriso me invade
pelas pernas

o corpo dos meus silêncios
goza feliz
a tua vinda

porque é a tua vinda
que se faz
quando permites
a minha chegada

porque é minha vida,
a Sua

quinta-feira, 3 de maio de 2018

o amor em fome

sento ao teu lado
enlaço meus dedos nos
teus
       dedos
que eu já comi

fruta fresca
uva
unha

dedos que já comi dedos

que
já comi serpenteando
que já comi de quatro
que já comi sentada
deitada
que já comi no bar
no banheiro do bar
na sua cama
no corredor
no banheiro

que já comi pura
nas impurezas de mim

e que também bebi quando podia

sobre a boca,
ainda essa fome Amor
e seus avessos

observações no escuro

paralelo aos encontros,
há o sonho

comendo a vida da gente
de magia

quarta-feira, 2 de maio de 2018

a poesia do sonho

é sempre assim a cobra
se
arrastando sobre o meu sexo.

de veneno, só
o gozo que se me escorre
entre

as pernas loucas trêmulas

terra sobre terra
ela avança mais um
cem

metro

e as métricas todas se confundem em teamo

poesia agora
enrolada às canelas

sobe un poco más
e se enrosca na minha cintura
y morde
y morde
y morde

porque essa não é história de veneno
ou morte
de luz ou escuridão

essa é a história de uma tatuagem antiga
uma história de passagem

travessia de mim,
que faz
amor


quinta-feira, 19 de abril de 2018

segunda-feira, 16 de abril de 2018

ao amor desse tempo

honro-te com minha boca
com todos os possíveis
dos meus lábios

com o silêncio do meu ventre,
as mãos a passarinhar pelo salão do teu corpo
boca,

honro-te
com meus dedos
dentro-fora
fora-dentro
                    tateando absurdos.

honro-te
com a cicatriz muda das minhas costas
ou a aridez das minhas palavras

honro-te com a presença constante
das minhas ausências
magnetismos de tempestades
quebradiças
ao chão do teu tempo

honro-te o que em mim
é agora
e queima:
você

em hilda

'.estar. sendo.
.ter. sido.'

para onde vão as pétalas?

agora meu sexo
em estado líquido:
pétalas frescas a desfolhar
na rua..
esquinas mudas
                          da tua boca.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

de onde se faz o amor

corromperia a visão de um homem,
a liberdade

corromperia as eternas infâncias
correndo feito um lobo
com as asas presas entre os cílios

corromperia a liberdade,
a Liberdade

por isso as asas insistem
nascer
perto
mais perto ainda dos lábios,

da boca

terça-feira, 3 de abril de 2018

segunda-feira, 2 de abril de 2018

vem

vem,
dança comigo aquele poema
azul no meio da.
azul
perto do.

vermelho..

vem,
que eu aqueço algumas palavras
obscenas
no meio das tuas

no meio do
teu..

vai,
fode comigo esse poema
esquece a lamparina
enquanto o poema é inteiro
ar e efeito
armadura
seios
rigidez
estremecimento

vem,
tira a blusa desse poema
a calcinha
encontra a boca
as costas nuas
os dedos gotejantes
os lábios

vem,
pr'esse poema de perna aberta
e olhos fechados
que te espera

só as tuas asas sobre as minhas
emudece
esse poema
vou

terça-feira, 27 de março de 2018

a primeira vez de um novo poeta em minha vida

ele falava o melhor inglês
que eu não entendia

do que valem as palavras
quando as pessoas parecem falar de amor?

a morada do Veio

mas ele estava chegando

sentia o cheiro de sua camisa larga
branca

os olhos perdidos em imensidões
dos meus
lugar nenhum
onde sempre sempre sempre
habitamos quando estamos um pouco só

a boca encharcada de Iemanjá
enquanto dizia para alguém que ainda é tempo de Poesia

ele falou Tupã, e eu ouvi
antes mesmo de sua chegada

trovejei
também se diz que é assim que se cumpre o amor da tempestade
com o mar

eu vim de lá,
de onde não sei e ele é

ele vem daqui
de onde não sabe,
e vem

um só Veio
pairado no canto secreto das ausências

segunda-feira, 5 de março de 2018

linguagem de quem foge

tem dias que as pontas todas
os icebergs
as pirâmides
as facas e garfos
e as lascas de unhas
ou o fino fio da escova de dente
ou mesmo a ponta da língua

tudo aponta pra língua
y faz gritar o silêncio
que somente a poesia
abarca o movimento de
fuga

danza [con hilda]

sentou, hilda
as danças todas na minha boca

fugiram-me os passos
não sei qual ou o que

quem dança
voa

o poema é
                 feito
invisíveis,
hilda

agora ela também sabe

DOIS UM

a única certeza
é que os opostos 
não se atraem

por acaso, eles se encontram
e contam suas histórias

mas é sempre uma história completa
de dois
sempre dois

o um é uma memória
distante de agora