quinta-feira, 23 de novembro de 2017

tu beso

então entrou

fez dois giros inteiros com a língua
enfiou o primeiro
depois o segundo dedo
[que era pra ver se estava quente]

depois voltou com a língua e escreveu:
é líquida a matéria do sonho
líquida como as asas das borboletas
a rotação passada
como planetas
a rotação
um sol nos olhos fechados

parou com os giros
depois começou com a língua
de cima pra baixo que era pra ver se tava cheio

não deu tempo de saber,
quando o quando um vulcão da minha boca

te amo é só questão
de invisíveis [eu disse]

ou eu acho que disse,
enquanto sorria

das águas

ou uma das moradas
de escorpião
é em peixes

casa 8

um dia a gente descobre
que uma das moradas de escorpião
é em aquário

a sua

eu poderia beijar todas as bocas de novo
lamber todas as bocetas
fazer carinho em pau
não importa
eu poderia

mas em nenhuma boca,
hoje,
eu danço

nenhum ventre

porque sou a dança
do meu corpo

y hoje ela só é para
y por você

então eu poderia,
mas também nem posso

da poética

são lindas as histórias
que servem para
serem
penduradas num
barbante

fotografia de comércio 
cabe até um pouco de humanidade
mas só
um pouco de sorriso forçado
y tal

eu gosto mesmo é das calcinhas
dos varais
aqueles fios que nunca
nunca
nunca
se contam
y nos costura,
dentais,
uns sorrisos
invisíveis

coisa que o tempo pode não falar
delas
fotografias de desejos

onde menos se espera ou se encontra,

líquidas

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

poeta

o poeta se me
escreve
c
om a língua
em minha boca
traduz saliva
passeia canteiros
relvas
ataca minha fome
o poeta
dança silêncio
quando eu sou eterna
melancolia
o poeta
rasteja, feito serpente

no meu olvido
se abre em asas
no meu sexo
o poeta tem caligrafia de garrafa
daquelas que nunca se lê
jogada ao mar
ele tem raízes fortes
mas nada que nossas mãos juntas
nao possa plantar de novo y de novo
y.
o poeta tem um verso escondido
daqueles que não se esconde a dor
das asas
o poeta é ela..
porta aberta para delirios
com cheiro aberto
de Fé
loba uivante
quando o meu nome
nua

de te amar em caos.. de te amar como em casa

eu quero a liberdade de não ir até você
a liberdade que você nunca venha

para percorrer os espaços
onde você não está
sem demora ou fome

o lugar onde por um momento
eterno
você possa
vir

um lugar onde seja possível
te encontrar
mas sobretudo um lugar onde não é possível
nunca
te encontrar

porque eu quero esse lugar-fome
esse lugar onde você não é mais
onde não sou
onde não somos

inteiros prováveis
Nadas

atraídos pela força brusca
de lugar nenhum
não atraídos por asas
sequer pensados liberdade

porque é também nesse espaço inabitado
y também inteiro
que faço um pacto com os Deuses
onde a Deusa não mora
mas poderia

porque me reconheço matéria
viva de fomes y de silêncios
porque eu te amo mais
no quando
onde
nada acontece
y mais ainda
quando não te amo

domingo, 12 de novembro de 2017

aqui

agora esse gosto de
mar aqui
fazendo sentido na minha boca

eu
chuva eterna
passado de rio
contrariada
que não era dada a matéria da forma
enclausurada na boca da fome

eu que nunca escolhi ser rio
ou peixe
ou mar
ou nada

que me esqueci num desses vagões de ser
que me tranquei no invisível
me podei no meio de algo que não é
entranhei no corpo do sem nome
para caso você nunca chegasse

então eu te vi
num desses lugares de não te encontrar
então se faz um tempo fascinação
de bocas
seios y entranhas

coisas que não consigo mais falar

de silêncio y amor

onde fechamos os olhos
y somos




quinta-feira, 2 de novembro de 2017

ontem a noite

ontem
a noite se esticou
em bom dia

seus lábios a me beijar
sonhos
seus dedos a plantar desejos
tuas costas em asas
aquáticas

amanhecemos
y não consigo ir embora
do mar dos teus
das tuas...

direi divagações
de novo

esse mar:
reino de conchas
da sua boca
de pérolas


quarta-feira, 1 de novembro de 2017

aquária

como esquecer por um segundo
seus dedos de unhas negras
descascadas em me procurar?

procuro uma imagem
ou um lugar que me faça falar dele
para que eu te esqueça

por baixo da minha saia
nasce uma estrela do [a]mar
ainda
y ela me lembra você

sabem minhas memórias
 que são suas essaa asas ou barbatanas
que são minhas

y que para brincar no aquário
é preciso habilidade com os dedos
y uma língua auspiciosa
língua de lugar nenhum
palavra de ninguém

não te esqueço aqui ainda
porque você vem com a língua
sorrateira
contorna um lado
agora o outro
dos meus voos
y

depois em mim um
ai!

como esquecer?
se também no aquário
perdido da sua blusa
um peixe ou dois
se alimentam de língua

y que não há sede
porque o que se passa no aquário
é fome

fome de línguas
dedos
de memórias
y suas divagações