segunda-feira, 25 de setembro de 2017

cartão postal

recebi tua letra,
escritura de saudade

tinta preta
estremecida no fim do verso
o S das tuas costas
me trazendo florestas-
 plurais

amoras
primaveras
equinócios 

a minha saudade
relembra tuas mãos em S
cadênciando coxas
seio
num dizer amor

a minha saudade
se faz verso
calado

distante das tuas manhãs,
só a tinta sabe da tua ausência

tinta que recebo seca,
mancha inexata num papel cartão
duro
seco

que eu insisto em mim
que vou guardar..

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

terça-feira, 19 de setembro de 2017

tu

tua língua:
esse som de trilhos de trem
que percorro
de olhos fechados
silenciosa

y me sei infinita

presença

nem bem falo de ausência
y meu peito infla
da tua presença

é que eu sou romântica demais
para te colocar num aquário

então o mar é aberto y infinito

y eu vou jogar a nossa garrafa
como quem põe,
certa
o nome no incerto infinito

vou jogar, como quem joga confetes

você saltou,
y era a única esperança a qual
eu não poderia viver
sem

liberdade

como alguém
com asas nos olhos?

essa tua mania de me olhar
liberdade

essa tua mania de fome
em partir

eu te escrevi um bilhete
marquei a página secreta do meu livro preferido
ouvi tuas músicas preferidas
li teu poema mais secreto

abri tuas pernas,
como quem abre uma janela que estivesse sempre trancada
y me joguei

essa, de todas as mortes,
a mais feliz
em viver
da tua ausência

beleza

você, metade cobra
metade felina

inspirada,
todas as vidas
a me inspirar
poesia

o seu

eu quero um beijo,
delicado beijo
donde vivem todos los silêncios

eu quero o beijo,
estrondoso beijo,
donde moram todas as muralhas

eu quero o beijo,
de todos os teus olhos fechados

o beijo sonho
o beijo poema metáfora de língua
o beijo amante
o beijo-danza
o beijo café da manhã
o beijo horizonte
alamedas

eu quero o seu beijo,
roubo de versos mudos
eternidade daqueles agoras
que continuo
sentindo

imensidão

miro o sol
atento
aos sentidos das pedras

a morte do que foi
passando de boca em boca
agora
o céu azul

vazios,
essas alturas de encontro

agora vazias
as minhas mãos das tuas

tua pele nua
imitando todo som
me lembrando qualquer
tua pele nua..
feito pedra

tua pele sempre
nua
sobre a minha

sinto por dentro um efeito de alturas
de pétalas de rosas cadentes

onde folheio com a ponta dos dedos
folha por folha
até virar
memória
este poema

onde, cheias,
minhas mãos
te alcançam
imensidão

terça-feira, 12 de setembro de 2017

sábado, 9 de setembro de 2017

la niña con alas

en el amor
cabe tudo

penas
engrenagens
ódio
amor
passagens
travessia
salto
labaredas
chiclé
danza
s'
t'
sorvete
plumas
barragens

mas y se en el amor
couber mesmo
isso de
trilhos?

recibo el amor
com mis ocos
entre las
piernas

terça-feira, 5 de setembro de 2017

confesso

de todos os meus amores,
sempre levei algo
além do amor

calcinhas
colares
pulseiras
aneis
vertigens
palavras
metáforas

me chamam
cleptomaníaca do amor

mas só de você,
me causa esse espanto
de roubar as tintas
de todas as tuas canetas,
ainda mais as vermelhas

já que não posso tocar os gestos
mudos
onde 
calados,
seus versos
me incendeiam

lembra?

chorou

depositou as gotas
na xícara

pegou um cigarro
fumou

disse que era pra gente tomar 
depois de foder muito
até nossos corpos suarem

y que, agora,
tomaríamos numa taça
de brinde "encontro"


reza

existe um templo
no de dentro das tuas saias

onde brotam
maravilhas
que sempre volto pra tomar

cálice-
va
gina

gotas
cadências
fuligem
pólen

iluminuras
que só se encontra com a língua
em reza

ave
...
cheia de asas

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

ponte

eu te olhei de novo

essa travessia
carrega um tornado
entre as entranhas
da ponte

a travessia desse desejo
tua língua cifrada dançando ondas

a espera desesperada

tuas mãos a me escrever
méxicos

uma curva em 
           s
nas tuas costas
me dizendo que no chile
fará sol

o batom vermelho
depositado num poema

teu nome deslizando
)todotempo(
nos meus dias

penso a travessia
como as nuvens dissolvidas
na minha boca,
tuas viagens em mim

meu cabelo molhado
o banho da olívia
tuas mãos com anel
de chiclé

as palavras sem nome
com que busco todos os dias
em mim
o teu nome

travessia travessia,
um lugar nenhum
imensidão
um lugar nenhum
onde você mora
macieira 
morangos
colibris
cascatas

os poemas
essa morada
em 9

a tua eterna voz
nos sons da vida

por que você nunca vem
quando te espero?

vens sempre
terremoto
tornada
invasão

de passagens
compradas

vem toda sendo
esse vulcão que já tenho
há tanto tempo no peito

esse meio
onde eu paro
y não quero saber
nunca mais de início ou fim

uma travessia abandonada,
em amar

.

somente
teu sorriso
me explica de novo
isso de alma


poema-pele

é também na pele
que o poema
respira
aromático, 
o tempo
se estica em infinitos
os pelos
arrepiam
na pulsação
da poeira da paz
é também na pele
que se me escreve
o poema
você
y ele voa
pelos
tateio com o nada
esse meus
seus absurdos
é no poema que a pele
ecoa
tuas mãos
teus dedos
é na pele que a pele
respira

poesia

de quando fui demônia

era noite
tua boca se insistia na minha
teus dedos
tua fantasia
eu pedi pizza
fiz beijinho
dancei pra noite
fiquei nua pra lua
já havia falado que você era noite
sorrindo p'ros
teus olhos de lua
você não se sentiu dentro
foi então que você quebrou ao meio
a minha fantasia,
y se não fosse um poema me tocando
eu não queria
y não quis
naquela mesma noite eu
um par de chifres de búfalo
um corpete preto y vermelho
fez a sinta liga estourar
foi então que um vulcão
te engoliu
y se manifestou

domingo, 3 de setembro de 2017

sob teus olhos de mar

tentei ouvir a mutação fresca
dos teus olhos fechados

ouvi formas
geometrias
lágrimas
ondas y suas sedes
anatomias

ouvi escurosos olhos fechados
desejos
tradução de uma canção antiga de futuro
de beira de rio com flores
de ondas espumosas
de quebranto dos meus versos

vestida na minha nudez de raios
elétrica
eu fugia do céu para tocar
o teu som
enquanto ouvia também o barulho
em que eu me caia de você

sem cor,
ouvi lágrimas circulares
águas girosas pelo salão do
teu rosto
y ouvia mais y mais
o escuro dos teus olhos fechados
tecendo esses indizíveis
(sempre do futuro)

ouvi o som dos pássaros que às vezes parecem as tuas pálpebras
fechadas
[y eu queria que elas
se abrissem ao me ver]

ouvi ouvi y
era inteiro abismo
este som enquanto chegava perto
y mais perto..

tudo o que ressoava
era teu som
tinha a sua infinita
assinatura

[olhar é um voo secreto
que só sabe
quando não se sabe nadar]

ouvi
teus olhos de tambor
infinitas asas
piscando piscando
me puxando
numa dança sem volta

feito o mar
era um som mar
depois de mais uma onda
y
me puxava
pra dentro
pra fora
pra dentro
pra fora

eu até então inteira tempestade
percorrendo a corrente fresca
dos teus olhos fechados

[foi então que soube o que estava ali pra saber: toda tempestade quando cai
já é a
mar]

então de novo os teus olhos.
este demônio nos meus ouvidos

a tempestade escorrendo do som do meu peito
y o que não se pode fugir
mar

então cores y  sons
 outras vidas
sim, outras vidas
futuras
o que não se podia ver
estava bem alí
onde não se podia ver

ouvir o som dessas cores
o som das tuas águas salgadas
ouvir o som Agora
a
mar
mas só se podia ouvir o
que era alma

parada no precipício
de um verso: o teu olhar ainda
fechado
indo
voltando

eu-agora pele
perfeita gota de uma tempestade
puta

a vida que piscava
piscava
piscava
depois fechava a janela
y eu ouvia tão bem esses indizíveis
um som janela
um dom cortina
acrobáticos sons

teus olhos me pescavam

duas vezes o mar dos teus olhos
anunciou minha chegada

num som anzol
de lenços y lencóis

duas vezes o som onde eu
morria

tateando teus abertos
escuros

eu-laroye
som linha tênue de um raio,

tempestuosa,
lembrando apenas o caminho
 sonoro do mar
teus olhos