tentei ouvir a mutação fresca
dos teus olhos fechados
ouvi formas
geometrias
lágrimas
ondas y suas sedes
anatomias
ouvi escurosos olhos fechados
desejos
tradução de uma canção antiga de futuro
de beira de rio com flores
de ondas espumosas
de quebranto dos meus versos
vestida na minha nudez de raios
elétrica
eu fugia do céu para tocar
o teu som
enquanto ouvia também o barulho
em que eu me caia de você
sem cor,
ouvi lágrimas circulares
águas girosas pelo salão do
teu rosto
y ouvia mais y mais
o escuro dos teus olhos fechados
tecendo esses indizíveis
(sempre do futuro)
ouvi o som dos pássaros que às vezes parecem as tuas pálpebras
fechadas
[y eu queria que elas
se abrissem ao me ver]
ouvi ouvi y
era inteiro abismo
este som enquanto chegava perto
y mais perto..
tudo o que ressoava
era teu som
tinha a sua infinita
assinatura
[olhar é um voo secreto
que só sabe
quando não se sabe nadar]
ouvi
teus olhos de tambor
infinitas asas
piscando piscando
me puxando
numa dança sem volta
feito o mar
era um som mar
depois de mais uma onda
y
me puxava
pra dentro
pra fora
pra dentro
pra fora
eu até então inteira tempestade
percorrendo a corrente fresca
dos teus olhos fechados
[foi então que soube o que estava ali pra saber: toda tempestade quando cai
já é a
mar]
então de novo os teus olhos.
este demônio nos meus ouvidos
a tempestade escorrendo do som do meu peito
y o que não se pode fugir
mar
então cores y sons
outras vidas
sim, outras vidas
futuras
o que não se podia ver
estava bem alí
onde não se podia ver
ouvir o som dessas cores
o som das tuas águas salgadas
ouvir o som Agora
a
mar
mas só se podia ouvir o
que era alma
parada no precipício
de um verso: o teu olhar ainda
fechado
indo
voltando
eu-agora pele
perfeita gota de uma tempestade
puta
a vida que piscava
piscava
piscava
depois fechava a janela
y eu ouvia tão bem esses indizíveis
um som janela
um dom cortina
acrobáticos sons
teus olhos me pescavam
duas vezes o mar dos teus olhos
anunciou minha chegada
num som anzol
de lenços y lencóis
duas vezes o som onde eu
morria
tateando teus abertos
escuros
eu-laroye
som linha tênue de um raio,
tempestuosa,
lembrando apenas o caminho
sonoro do mar
teus olhos