terça-feira, 27 de março de 2018

a primeira vez de um novo poeta em minha vida

ele falava o melhor inglês
que eu não entendia

do que valem as palavras
quando as pessoas parecem falar de amor?

a morada do Veio

mas ele estava chegando

sentia o cheiro de sua camisa larga
branca

os olhos perdidos em imensidões
dos meus
lugar nenhum
onde sempre sempre sempre
habitamos quando estamos um pouco só

a boca encharcada de Iemanjá
enquanto dizia para alguém que ainda é tempo de Poesia

ele falou Tupã, e eu ouvi
antes mesmo de sua chegada

trovejei
também se diz que é assim que se cumpre o amor da tempestade
com o mar

eu vim de lá,
de onde não sei e ele é

ele vem daqui
de onde não sabe,
e vem

um só Veio
pairado no canto secreto das ausências

segunda-feira, 5 de março de 2018

linguagem de quem foge

tem dias que as pontas todas
os icebergs
as pirâmides
as facas e garfos
e as lascas de unhas
ou o fino fio da escova de dente
ou mesmo a ponta da língua

tudo aponta pra língua
y faz gritar o silêncio
que somente a poesia
abarca o movimento de
fuga

danza [con hilda]

sentou, hilda
as danças todas na minha boca

fugiram-me os passos
não sei qual ou o que

quem dança
voa

o poema é
                 feito
invisíveis,
hilda

agora ela também sabe

DOIS UM

a única certeza
é que os opostos 
não se atraem

por acaso, eles se encontram
e contam suas histórias

mas é sempre uma história completa
de dois
sempre dois

o um é uma memória
distante de agora